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Avaliação e Fator de Risco

Muitas preocupações têm sido levantadas acerca do uso generalizado do triclosan, tanto por o seu potencial selecionador de bactérias resistentes, que poderão conferir resistência cruzada a outros agentes antimicrobianos como pelos seus potenciais danos no ambiente e ecossistemas marinhos e terrestres, incluindo possivelmente o ser humano. O triclosan é classificado, pela União Europeia, como “muito tóxico para organismos aquáticos” e “pode causar, a longo prazo, efeitos adversos para o ambiente”.

 

1. Impacto na saúde

 

No seu trabalho “Opinion on triclosan”, o Comité Científico para Produtos de Consumidor (SCCP) da Comissão Europeia (CE), avaliou o triclosan quanto ao seu potencial toxicológico nos seguintes parâmetros:

  • Toxicidade Geral: O triclosan não apresenta toxicidade aguda por via oral, com valores de LD50 no intervalo de 3750-5000 mg/kg em ratinhos e ratos, e valores superiores aos 5000 mg/kg em cães. O comité considera a NOAEL (“No Observed Adverse Effects Level”) de 12 mg/kg. [1]

 

  • Irritação/sensibilização: Estudos de irritação sugerem que o triclosan pode causar ligeira irritação reversível em concentrações de 0,5 a 5%. Relativamente ao uso humano, a concentração de 0,3% (concentração máxima permitida em produtos cosméticos) não é irritante da pele ou mucosa oral. Quando testado em pacientes com alergia ou intolerância a cosméticos, reações positivas variaram entre 0,06 a 0,8% num total de 11887 testes. [1]

 

  • Absorção oral e dérmica: O triclosan é bem absorvido pela pele em todas as espécies testadas, com a extensão de absorção geralmente dependente da formulação em que este é incluído. No rato, a absorção percutânea foi de aproximadamente 23 a 28% da dose aplicada em etanol, etanol/água, suspensão de sabão ou creme. O triclosan é altamente absorvido após administração oral, sendo absorvido até cerca de 98% da dose em humanos. Contudo, em condições normais de uso de pasta de dentes ou após aplicação percutânea de diferentes produtos de cuidado pessoal, a absorção é limitada (aproximadamente 5 a 10% da dose). [1]

  • Mutagenicidade/Genotoxicidade: Estudos realizados sob guidelines da OECD, e após investigação pelo Comité quanto a mutações genéticas, alterações cromossómicas estruturais e numéricas, levaram a considerar o triclosan, na altura da realização deste relatório, como não contendo potencial genotóxico relevante in vivo para o ser humano. [1]

 

  • Carcinogénese: O triclosan demonstrou efeitos hepáticos incluindo desenvolvimento de tumores em ratinhos, mas poucas evidências de toxicidade e nenhum tumor em ratos. Hamsters mostraram aumento de toxicidade hepática comparativamente, mas não manifestaram tumores. De acordo com a classificação atual de União Europeia, o triclosan não é considerado classificável como um carcinogénico, contudo, o Comité considera necessário notar que o triclosan é um proliferador do peroxissoma em fígados de ratinhos. [1]

 

  • Toxicidade Reprodutiva: Num estudo reprodutivo e de desenvolvimento realizado em ratinhos, expostos a doses de até 350 mg/kg/dia, o triclosan não foi teratogénico ou tóxico em termos reprodutivos. [1]

 

Tendo em conta os dados toxicológicos apresentados, o SCCP considerou que o uso continuado de triclosan como um conservante nas concentrações máximas de 0,3% em todos os produtos cosméticos não é segura devido à magnitude de exposição global. Contudo, o seu uso numa concentração máxima de 0,3% em pastas de dentes, sabonetes, geles de banho e desodorizante (produtos de uso comum) é considerado seguro. O uso em pós e corretores faciais nestas concentrações também é considerado seguro, embora em produtos de permanência, como loções corporais e elixires bocais, não o seja devido às altas taxas de exposição. [1]

2. Resistência Antimicrobiana

O triclosan é o biocida mais estudado em termos de resistência antimicrobiana, estando disponível informação relativa à sua atividade na bactéria, a identificação dos mecanismos de resistência, incluindo aspetos genómicos e proteómicos. Contudo, existe pouca informação relativa à interação entre o triclosan e células microbianas/comunidades, incluindo dados de exposição e biodisponibilidade in situ. No entanto, o Comité Científico para a Segurança do Consumidor (SCCS) da Comissão Europeia, no seu trabalho “Opinion on triclosan”, expressa um número de preocupações:

  • Existe perigo associado ao efeito do triclosan na regulação de genes de resistência nas bactérias. [2]

  • Mecanismos que promovem a resistência e resistência cruzada a outros biocidas e antibióticos na bactéria foram já identificados e descritos. [2]

  • Altas concentrações de triclosan (comparativamente a concentrações sabidas provocarem resistência em experiências in vitro) foram já medidas em certos compartimentos ambientais, embora uma relação com o uso de cosméticos ou outros produtos específicos não tenha sido feita. [2]

  • Biofilmes bacterianos encontram-se distribuídos pelo ambiente e são capazes de sobreviver a exposição ao triclosan e outros efeitos adversos. [2]

O Comité refere neste trabalho que não existe até à data informação epidemiológica relacionando surtos de resistência antimicrobiana em agentes patogénicos humanos ou zoonóticos causados pela exposição ao triclosan, mas que devido à importância de agentes biocidas como o triclosan na desinfeção, assepsia e preservação, o uso do triclosan deveria ser reavaliado para assegurar a sua eficácia. [2]

 

3. Efeitos ambientais do triclosan

 

Mais de 95% dos usos do triclosan são efetuados em produtos rejeitados pelas canalizações domésticas. Como resultado, o uso distribuído do triclosan e outros compostos antibacterianos terminam na contaminação das águas superficiais, não sendo o triclosan removido por métodos de tratamento de águas convencionais em ETARs. De facto, o triclosan foi já detetado em águas residuais, lamas ativadas, águas superficiais e sedimentos, sendo um dos compostos mais frequentemente encontrados e nas concentrações mais altas. [3]

 

Esta permanência do triclosan no ambiente é causa para preocupações uma vez que, no ambiente, o triclosan sofre metabolização a diferentes compostos tóxico como dioxinas, para além de ser capaz de formar também clorofórmio, um provável agente carcinogénico humano. Foi já verificado que o triclosan é altamente tóxico para diferentes tipos de algas, organismos chave em ecossistemas aquáticos complexos, e foi detetado em altas concentrações invertebrados terrestres como minhocas. [3]

 

O triclosan é lipofílico e assim é um alvo de absorção e bioacumulação em tecidos gordos, especialmente em organismos aquáticos. Estudos mostraram que os peixes acumulam concentrações significativas de metabolitos do triclosan. Apesar dos efeitos concretos não serem ainda totalmente conhecidos, foram já verificadas várias alterações provocadas, nomeadamente a nível de disrupção endócrina. [3]

[1] Scientific Committee on Consumer Safety (SCCS) – OPINION ON TRICLOSAN. COLIPA nº P32. ADDENDUM to the SCCP Opinion on Triclosan (SCCP/1192/08) from January 2009. Aprovado a 22/03/2011. Acedido em: http://ec.europa.eu/health/scientific_committees/consumer_safety /docs/sccs_o_054.pdf a 27/05/2016

[2] Scientific Committee on Consumer Safety (SCCS) – Opinion on triclosan. Antimicrobial Resistance. SCCP/1251/09. Aprovado em 22/06/2010. Acedido em: http://ec.europa.eu/health/scientific_committees/consumer_safety/docs/sccs_o_023.pdf a 27/05/2016

[3] Yueh, M., Tukey, R. (2016) Triclosan: a widespread environmental toxicant with many biological effects. Annual review of pharmacology and toxicology, 56, 251-272.

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