TRICLOSAN
O uso de triclosan tem sido considerado geralmente bem tolerado e seguro para o homem, por esta razão, nas últimas décadas, os fabricantes têm-no adicionando aos seus produtos, com o objetivo de proporcionar aos consumidores uma proteção antibacteriana de longa duração. O uso, cada vez maior, de produtos contendo triclosan tem levado à sua bioacumulação e persistência no ambiente. [1]
A ampla utilização de triclosan em diversos produtos de consumo humano tem conduzido a uma distribuição generalizada deste composto químico pelos ecossistemas. O triclosan e os seus derivados têm sido detetados em efluentes de ETARs em todo o mundo, assim como nas águas dos rios e todo o ambiente circundante. Atualmente, é considerado um dos contaminantes mais comuns encontrados tanto em ecossistemas aquáticos como em ecossistemas terrestres e tem sido detetado em quantidades que variam desde nanogramas a vários microgramas por litro, em sedimentos, ETAR’s, rios, lagos e até fontes de água potável. [1, 2]
Uma grande percentagem de produtos contendo triclosan (cerca de 96%), após utilização, é conduzida para as águas residuais, que são posteriormente tratadas em estações de tratamento de águas residuais (ETARs). Emboras as ETARs possuam vários processos para o tratamento e remoção de contaminantes das águas residuais, por vezes, estes processos podem não ser completamente eficazes e parte do triclosan presente não é totalmente removido e vai ser encaminhado para os rios através dos seu efluentes. Estima-se que perto de 50% do triclosan que é encaminhado para ETARs que utilizam lamas ativadas em combinação com tratamentos de digestão anaeróbios fica retido e acumula-se nas lamas e biossólidos dessas mesmas ETARs. [2]
Fig. 1 - Distribuição do triclosan no ambiente. [1]
Durante os processos de tratamento das águas residuais, o triclosan tende a converter-se em vários derivados. Pode sofrer metilação e passar a metiltriclosan, ou pode ser transformado, durante os processos de desinfeção das águas residuais utilizando cloro, em derivados clorados de triclosan, que possuem um elevado grau de persistência no ambiente relativamente ao composto que lhes deu origem, devido ao seu caracter lipofílico e resistência à biodegradação. Alguns investigadores têm referido que os derivados clorados de triclosan são mais tóxicos que o próprio triclosan, e que a sua toxicidade aumenta à medida que aumentam as substituições com cloro. Quando libertados pelas ETARs para as águas de superfície, o triclosan e os seus derivados clorados podem sofrem fotólise direta e converterem-se em novos derivados, nomeadamente 2,4-diclorofenol e policlorodibenzo-p-dioxinas (PCDDs), incluindo 1,2,8-triclorodibenzo-p-dioxina (1,2,8-TriCDD), 1,2,3,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (1,2,3,8-TCDD), 2,3,7-trichlorodibenzo-p-dioxina (2,3,7-TriCDD), e 2,8-diclorodibenzo-p-dioxina (2,8-DCDD). Estes compostos são altamente persistentes no ambiente e alguns deles têm sido associados a carcinomas.[1]
Fig. 2 - Formação de derivados do triclosan. [1]
Vários fatores influenciam as concentrações de triclosan nos ecossistemas aquáticos, incluindo a descarga do triclosan nos efluentes, as suas propriedades físicas e químicas, as próprias características do ecossistema aquático (pH, densidade de sedimentos e matéria orgânica, o fluxo de água e velocidade, profundidade), e ainda a estação do ano e a intensidade da luz solar. O triclosan foi medido em águas de superfície, e também em estuários de água doce e respetivos sedimentos, tendo sido encontrado em concentrações que foram até 800 mg/kg. [2]
Um estudo avaliou a presença de triclosan em sedimentos com 30 anos de idade, no lago Greifensee na Suíça. Este estudo evidenciou a persistência do triclosan nos sedimentos e detalhou o padrão do uso do triclosan até então: a concentração de triclosan nos sedimentos aumentou entre o início do ano de 1960 até meados do ano de 1970, refletindo o aumento progressivo do seu uso, então uma inversão desta tendência foi observada a partir de meados do ano de 1970 até o início do ano de 1980, quando um novo processo de tratamento de águas residuais foi introduzidos na maioria das ETARs. Um aumento nas concentrações de triclosan voltou a ocorrer a partir do início de 1980. Resultados semelhantes foram obtidos num estudo conduzido nos Estados Unidos da América abrangendo os últimos 40 anos. Desta forma, a monitorização das concentrações de triclosan nas águas superficiais é um fator importante, uma vez que a persistência ambiental do triclosan em sedimentos é indicativo do seu potencial de bioacumulação nos sedimentos e da sua capacidade de resistir a processos de degradação em condições anaeróbias e consequentemente persistir nos ecossistemas aquáticos por longos períodos de tempo. [2]
A remoção ineficaz de triclosan durante os processos de tratamento de águas residuais conduz a uma exposição continuada a este composto e à sua acumulação em tecidos de organismos aquáticos. As algas, uma fonte de alimentação primária para muitas espécies, constituem uma importante via para a acumulação e persistência de contaminantes lipofílicos como o triclosan nos ecossistemas. Considerando a presença ubiquitária de triclosan no ambiente e nos tecidos de organismos, e tendo em conta que certos caracóis e outros invertebrados aquáticos dependem de algas como fonte de subsistência, é possível que aconteça a passagem destes produtos pelas cadeias alimentares, tornando-os disponíveis para um maior número de organismos superiores incluindo peixes. [2]
Uma vez no ambiente, o triclosan tende a acumular-se e persistir em biossólidos e sedimentos e desta forma pode entrar no ambiente terrestre através da utilização de lamas e sedimentos e de águas contaminadas para fins agrícolas ou industriais. [2]
Estudos quantitativos tendo em conta a relação estrutura-atividade do triclosan demonstraram a sua capacidade de bioacumulação no solo e em sedimentos. Testes laboratoriais realizados em condições aeróbias demonstraram que este composto tinha um tempo de semivida de 18 dias, no entanto, o triclosan, persistiu no solo em condições anaeróbias durante todo o período da experiência que foi de 70 dias. Estes resultados suportaram outros estudos que referiam que uma grande parte do triclosan presente em ETARs foi removido durante processamentos aeróbios, mas não anaeróbios. Assim, tanto em ambientes aquáticos como terrestres, a biodegradação do triclosan ocorre essencialmente sob condições aeróbias, sendo o antimicrobiano resistente em condições anaeróbias. [2]
Devido à natureza lipofílica do triclosan e à sua capacidade de bioacumulação e persistência em solos e sedimentos, este pode ter também a capacidade de atravessar os ecossistemas terrestres e ser transmitido a aves e outros predadores, sendo que já existem estudos que relataram a presença de triclosan em minhocas e pequenos vermes terrestres mas ainda não existem dados concretos documentados sobre a possibilidade de transmissão do triclosan através das cadeias alimentares. [2]
[1] Yueh, M., Tukey, R. (2016) Triclosan: a widespread environmental toxicant with many biological effects. Annual Review of Pharmacology and Toxicology, 56, 251-272.
[2] Dann, A., Hontela, A. (2011) Triclosan: environmental exposure, toxicity and mechanisms of action. Journal of Applied Toxicology, 31 (4), 285-311.